“O descontrole com as finanças é tão grande que, todos os meses, desperdiçamos mais de 100 000 reais em contas de água e luz”, diz Jackson Vasconcelos, que, em janeiro, assumiu o cargo de gerente executivo do Fluminense. “Reduzir os custos virou questão de sobrevivência.”
A situação vivida pelo Fluminense é crítica. Mas não é única. Um estudo elaborado pela auditoria BDO RCS, especializada em esporte, revela que os clubes brasileiros nunca ganharam tanto dinheiro. Em 2010, o faturamento somado das 25 maiores equipes do país avançou 15% em relação ao ano anterior, chegando ao inédito volume de 1,9 bilhão de reais.
O problema é que o reforço no caixa só serviu de combustível para alimentar uma ciranda perversa: quanto mais os clubes ganham, mais eles gastam. O prejuízo somado desses mesmos times no período chegou a 264 milhões de reais.
Apenas quatro deles fecharam o ano no azul: Atlético Paranaense, Corinthians, Cruzeiro e São Paulo. Somadas, as dívidas de todas as agremiações chegam a 3,6 bilhões de reais. No país da bola e da próxima Copa do Mundo, o futebol tem sido um péssimo negócio.Cabe a Pergunta: o Futebol ou a explícita e comprovada incompetência Administrativa dos dirigentes? Salário de executivo competente depende de resultado, ou algo está errado. MUITO ERRADO.
A má administração parece fazer parte da essência dos clubes brasileiros. Boa parte do rombo dos times foi causada por um desembolso sem precedentes na contratação de jogadores. Em dezembro de 2009, o Corinthians contratou o lateral Roberto Carlos, que jogava no Fenerbahçe, da Turquia, por um salário mensal de cerca de 300 000 reais.
Em agosto de 2010, foi a vez de o Fluminense oferecer uma remuneração estimada em 750 000 reais por mês ao brasileiro naturalizado português Deco, então no britânico Chelsea. Roberto Carlos deixou o Corinthians um ano depois, brigado com a torcida. Deco não foi decisivo para o título do Fluminense. Mas esses fatos não impediram que a farra dos craques continuasse.
Em janeiro deste ano, o Flamengo trouxe de volta Ronaldinho Gaúcho, então no italiano Milan, por um salário estimado em 950 000 reais — remuneração semelhante à do capitão Carles Puyol, do Barcelona. Um mês depois, o Corinthians recrutou o atacante naturalizado português Liedson por 5 milhões de reais (mais um salário de cerca de 400 000 reais por mês) e, logo em seguida, o atacante Adriano, que estava no Roma, por volta de 300 000 reais mensais.
Por fim, em março, o São Paulo desembolsou 20 milhões de reais para repatriar o atacante Luis Fabiano, que defendia o Sevilha. (Tanto Adriano quanto Luis Fabiano estão inativos por problemas físicos.) “Nos últimos anos, os clubes diversificaram suas fontes de receita e passaram a faturar tanto quanto empresas médias”, diz Amir Somoggi, sócio da BDO RCS. “Agora, precisam aprender a ser eficientes como elas.”Ou a ter a capacidade de contratar executivos competentes.
Administrar um clube de futebol é muito diferente de gerir uma empresa. Para começar, as 20 equipes que disputam a primeira divisão do campeonato brasileiro são associações sem fins lucrativos.
Daí os investimentos generosos na contratação de jogadores, mesmo que isso por vezes (SEMPRE, pelo que vemos)extrapole o bom senso financeiro — estima-se que os gastos com a folha de pagamentos respondam por algo entre 50% e 80% do total. É por isso que casos como o do Real Madrid, do técnico José Mourinho, são tão raros.
Na temporada 2009-2010, o Real registrou um superávit de 30 milhões de euros — um valor alto mesmo para as agremiações europeias. O Barcelona, por exemplo, campeão mundial de clubes em 2009, teve um prejuízo de 79 milhões de euros na última temporada devido, em grande parte, ao pagamento de quase 200 milhões de euros em salários.
“O esporte vive em uma exuberância irracional. Balancear vitórias e lucratividade é muito difícil”, diz o americano Kenneth Shropshire, diretor do centro de esportes da escola de negócios Wharton.